sábado, 12 de março de 2011

pentecostalismo parte 3

Por: Marcos Couto

As difamações apenas começavam, mas não impediram que o grupo continuasse a se reunir nas casas dos fieis. Conversões, curas e batismos no Espírito passaram a ser frequentes. A nova igreja adotou o nome de Missão da Fé Apostólica, também empregado pelo movimento da Rua Azuza, mas sem qualquer ligação administrativa com o grupo de William Joseph Seymour. O nome Assembleia de Deus viria somente em 1918, também por sugestão de Gunnar Vingren. A inspiração veio de uma tendência norte-americana. Quatro anos antes, em Hot Springs, diversas igrejas pentecostais haviam adotado a nomenclatura. Mas, uma vez mais, não haveria qualquer ligação institucional entre elas e a brasileira.

A expansão da nova fé foi rápida. Enfrentou pesados artigos veiculados pelos opositores na imprensa local, que teimavam em chamar o movimento de “uma seita perigosa” e “de ter como base o exorcismo”. Mas a publicidade atraiu muita gente. Nem mesmo ameaças e agressões físicas impediram seu avanço para o interior, onde os milagres atraíam novos interessados. Trabalhando como colportor, Berg ajudou muito nesse processo. Nos três primeiros anos, ele espalhou duas mil Bíblias, quatro mil Novos Testamentos e seis mil porções com trechos dos Evangelhos. Antes mesmo de chegar a outros estados, já em 1913, o movimento enviaria seu primeiro missionário a terras além-mar. José Plácido da Costa, um português de nascimento, regressou à sua pátria levando consigo a mensagem pentecostal.

Os primeiros anos foram marcados pela expansão às regiões Norte e Nordeste. Em parte por causa do apoio recebido com a chegada de outros missionários enviados por missões europeias dos EUA e ao apoio recebido da Igreja Filadélfia, em Estocolmo, na própria Suécia. A partir de 1914, chegaram ao Brasil nomes como Otto Nelson, Samuel Nyström, Samuel Hedlund, Nels Nelson, Ana Carlson, Beda Palha, Gay de Vris, Augusto Anderson, Vitor e Elizabeth Johnson, Gustavo e Herberto Nordlund, Simão Lundgren, Joel Carlson, Orlando Boyer, Nils Kastberg e Algot Svenson.

Para auxiliar o trabalho, Almeida Sobrinho e João Trigueiro da Silva começaram a publicar em 1917 a Voz da Verdade, primeiro jornal pentecostal brasileiro. Como não era oficial, teve vida efêmera. “Foi substituído, dois anos depois, pelo periódico Boa Semente, lançado por Vingren e Samuel Nyström, em Belém. Em fins dos anos 20, essa folha ganharia a companhia de O Som Alegre, que passou a ser publicado no Rio de Janeiro, por Vingren e sua esposa Frida”, esclarece o jornalista Silas Daniel em História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (Cpad). Nesses órgãos, relatos como o do missionário Paul John Aenis, que bebeu limonada com veneno em Jaci-Paraná, no ano de 1921, e não morreu, ajudavam a atrair a atenção das pessoas.

Todos esses fatores foram importantes, mas não explicam como, em menos de duas décadas e sem uma estratégia definida, a igreja tenha penetrado em inúmeras vilas e cidades e alcançado os grandes centros urbanos, como São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Porto Alegre. “A crise da borracha explica essa expansão. Entre os anos 1915 e 1920, por causa desta crise, mais de 200 mil seringueiros retornaram para suas cidades de origem ou para as regiões Sul e Sudeste. Eles foram os grandes responsáveis pela pregação da mensagem pentecostal. Isso não diminui em nada o milagre de Deus, afinal, até na Bíblia, vemos que o Evangelho só saiu de Jerusalém pela ação de pessoas comuns e anônimas que deixaram a cidade por causa da perseguição”, afirma o sociólogo Gedeon de Alencar.

As primeiras décadas da Assembleia de Deus no Brasil foram marcadas também por outro detalhe curioso: a importância da participação feminina nos trabalhos da nova igreja. Em algumas ocasiões, até liderando. “Não há registros oficiais de mulheres no ministério. Mas elas eram mais do que esposas e companheiras”, observa Gedeon. Frida Vingren talvez seja o exemplo mais claro. Nas ausências do marido, era ela que tomava conta da igreja de Belém ao lado do missionário Samuel Nyström. Ele considerava esses momentos como exceções. Mas o próprio Vingren cita em seu diário que, durante tantas vezes em que caiu de cama, doente, foi sua mulher quem assumiu a liderança diária da igreja no Rio.

Outra contribuição fundamental das mulheres se deu na imprensa. Elas eram as principais articulistas dos jornais assembleianos nos anos 1920 e, em seus primeiros números, do Mensageiro da Paz, criado em 1930. “Que outros jornais da época tinham mulheres como redatoras-chefe? É uma vanguarda na questão de gênero que nenhum movimento feminista teve em qualquer parte do mundo”, defende Alencar.



Data: 23/2/2011

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