segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Em NY, Abbas reafirma planos na ONU e prevê tempos difíceis para palestinos

Pouco após chegar a Nova York para a 66ª Assembleia Geral das Nações Unidas, Mahmoud Abbas, o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), reafirmou seu plano de pedir reconhecimento como Estado-membro à ONU na sexta-feira (23) e afirmou prever "tempos difíceis" para os palestinos após a medida.
"O povo palestino e sua liderança passarão por tempos muitos difíceis após a iniciativa palestina nas Nações Unidas através do Conselho de Segurança para pedir reconhecimento pleno como Estado-membro com base nas fronteiras de 1967 e tendo Jerusalém Oriental como capital", disse o líder.
Tara Todras-Whitehill/Associated Press - 16.set.2011
O líder da ANP, Mahmoud Abbas, não cedeu às pressões dos EUA e da União Europeia e manteve iniciativa que levará à ONU
O líder da ANP, Mahmoud Abbas, não cedeu às pressões dos EUA e da União Europeia e manteve plano que levará à ONU
Em meio às declarações feitas aos jornalistas que o acompanharam na viagem de Ramallah a Nova York, Abbas disse que não cedeu às crescentes pressões ocidentais e de Israel para que ele abandonasse seu plano.
Dias atrás, o presidente dos EUA, Barack Obama, já deixou claro que seu país deverá barrar o pedido palestino no Conselho de Segurança das Nações Unidas, onde detém poder de veto.
Tanto os americanos quanto os europeus despacharam enviados especiais à região na semana passada para conversar com Abbas e o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, mas a pressão diplomática e tentativa de retomar negociações não alteraram a iniciativa da ANP.
Abbas disse a jornalistas durante o voo para Nova York que seguirá com seu plano apesar de "ter-se instaurado o caos" por conta do pedido, acrescentando que os governos europeus e os Estados Unidos lhe informaram que "a situação não é boa" depois da iniciativa.
Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress
"Até que ponto, saberemos depois", disse Abbas, que depende da ajuda financeira internacional para sobreviver na Cisjordânia ocupada por Israel.
Os Estados Unidos e Israel querem manter o processo de paz restrito a um "diálogo bilateral" supervisionado à distância por Washington, disse Abbas. Mas esse diálogo tem fracassado, o que levou à iniciativa de buscar a condição de membro na ONU.
Membros do governo israelense estão pedindo represálias firmes contra uma iniciativa que, segundo eles, tem como objetivo isolar Israel. Alguns políticos norte-americanos disseram que tentarão cortar a ajuda dos EUA aos palestinos, que totaliza US$ 500 milhões, se não recuarem.
Em comparação, desde 2007 Israel recebe dos EUA US$ 3 bilhões em ajuda anual, em virtude de um acordo militar entre os dois países vigente até 2017.
A Autoridade Palestina já enfrenta uma crise financeira neste ano por causa da redução da ajuda dos Estados árabes.
ISRAEL E LEIS DE EMERGÊNCIA
Também na manhã desta segunda-feira, Abbas ressaltou a necessidade do apoio israelense e pediu que "o povo de Israel reconheça o Estado da Palestina, provando que pode haver uma solução de dois Estados, sem desperdiçar uma oportunidade para a paz".
"Nós dizemos ao povo de Israel, nós queremos paz, vocês querem a paz, nós já perdemos tempo suficiente e agora queremos adiantar as coisas. Nosso pedido não é um salto para o abismo, nós queremos nossa independência. Enfrentamos um mundo dividido e pedimos a eles que considerem a a causa palestina --quando teremos direto a um Estado?", questionou.
Em suas últimas reações ao plano, ainda no domingo (18), o premiê de Israel alertou para leis de emergência e descreditou a Assembleia Geral das Nações Unidas --onde se estima que o plano palestino seja aprovado, ao menos como Estado-não-membro-- e disse que somente a análise final do Conselho de Segurança --que pode aprovar ou vetar o status de Estado-membro-- tem peso político real.
"O Conselho de Segurança é como o governo das Nações Unidas, e estou convencido de que, como resultado da ação dos Estados Unidos em estreita colaboração com outros governos, a tentativa fracassará. A Assembleia é o Parlamento da ONU, por isso poderia passar qualquer decisão", declarou antes de ressaltar que "não tem a mesma importância que o Conselho de Segurança".
Segundo o jornal israelense "Haaretz", o governo israelense já estuda aplicar leis de emergência caso o plano seja aprovado na ONU. As medidas concedem à polícia a autorização de deter suspeitos por um período máximo de nove horas, três vezes mais do que marca atualmente a lei.
Também se prorrogaria de 24 para 48 horas o tempo que a polícia tem entre o momento da prisão até a apresentação do detento perante um juiz.
POTÊNCIAS
Abbas chega a NY um dia depois de uma reunião de 11 horas do Quarteto para o Oriente Médio (EUA, União Europeia, Rússia e ONU), na qual as potências buscaram esboçar um documento em que palestinos e israelenses se comprometam a manter as negociações mesmo após a iniciativa da ANP nas Nações Unidas.
Não houve comunicado oficial com os resultados da reunião, realizada a portas fechadas.
"O que buscaremos durante os próximos dias é uma forma de criar algo que permita que suas demandas e legítimas aspirações à condição de Estado sejam reconhecidas, enquanto se renova a única coisa que vai produzir um Estado, que é a negociação direta entre as duas partes", disse o ex-premiê britânico, emissário do Quarteto, sobre a necessidade de acordo.
Blair mostrou-se preocupado com o efeito que o reconhecimento do Estado palestino na ONU pode ter sobre a já volátil e complexa relação entre palestinos e israelenses.
Entre os temas que preocupam a comunidade internacional estão a decisão sobre a capital de um potencial Estado palestino, que entra em conflito direto com Israel, já que os dois lados disputam Jerusalém, os assentamentos judaicos na Cisjordânia e Jerusalém Oriental e as fronteiras pré-1967.
HAMAS
Embora o panorama externo para os palestinos já seja bastante complexo, o Hamas, movimento islâmico que controla a faixa de Gaza desde 2007 e mantém uma relação instável com a Cisjordânia, onde a ANP governa, apresentou neste domingo mais um desafio ao plano de Abbas.
O primeiro-ministro do movimento, Ismail Haniye, disse que o Hamas não apoia a iniciativa de Mahmoud Abbas e que só passaria a dar seu aval ao plano caso os acordos já obtidos entre palestinos e israelenses fossem rompidos, renegando a existência do Estado hebreu.
"Nós somos a favor da declaração de um Estado palestino em qualquer terra libertada", acrescentou dizendo que entre suas condições estão deixar de reconhecer o Estado de Israel e não ceder quanto às fronteiras que os territórios palestinos apresentavam antes da Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando os israelenses anexaram partes dessas terras.

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