sábado, 12 de março de 2011

pentecostalismo parte 2

Por: Marcos Couto

Quando Berg e Vingren aportaram no Brasil, o fogo pentecostal já ardia há alguns meses. Fora trazido, também dos Estados Unidos, pelo italiano Luigi (ou Louis) Francescon e logo daria origem à Congregação Cristã no Brasil, primeira denominação pentecostal brasileira. Mas, estava restrito às comunidades de imigrantes no Paraná e em São Paulo.

Em todo o país, naquele ano de 1910, a realidade espiritual era outra. A Igreja Católica celebrava suas missas em latim; a Luterana, cultos em alemão; a Anglicana, em inglês. O espiritismo ainda era caso de polícia e os cultos afro não eram nomeados ou reconhecidos. “Oficialmente, não havia espaço para a religiosidade popular na época”, destaca o sociólogo Gedeon de Alencar, diretor do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos (Icec) e autor do livro Assembleias de Deus – Origem, Implantação e Militância (1911-1946), publicado pela Arte Editorial.

Naquele tempo, a capital do Pará vivia os últimos dias do apogeu da borracha. Com uma população de 250 mil habitantes, era uma metrópole de contrastes. Ao chegar ali, os viajantes surpreenderam-se com a Boullevard Castilhos França, uma encantadora e larga avenida que, com seus belos canteiros centrais, nada devia às suas mais festejadas similares europeias.

Vingren e Berg aproveitaram para almoçar em um dos restaurantes da região e conhecer a tão falada feijoada e o típico cafezinho nacional. Subindo a 15 de agosto, hoje, Presidente Vargas, avistaram as riquezas dos bem conservados casarões e entraram no suntuoso Teatro da Paz. Mas ali mesmo, na Praça da República, tiveram o primeiro choque. Por todo lado se espalhavam pessoas com narizes, bocas e pés dilacerados. Eram portadores de lepra em busca de algum remédio milagroso. Toda a região ainda sofria com epidemias endêmicas de malária, tuberculose e febre amarela. Como nunca haviam visto antes, pobreza e riqueza conviviam lado a lado em um dantesco espetáculo.

Os missionários sentaram-se em um dos bancos da praça. Queriam orar, interceder por todo aquele povo. Também pedir a Deus direção e para que as portas lhes fossem abertas. Precisariam. Ainda que estivessem acostumados às perseguições – na Suécia, eram levadas a cabo pela quase estatal Igreja Luterana, entidade rica e que considerava ser batista um ato grave de subversão –, por aqui, deveriam transpor a barreira da língua, até então incompreensível, as tradições católicas e o sectarismo dos demais protestantes. Porém, naquele momento, como eram batistas, foi uma igreja batista que os acolheu.

Morando no porão da Igreja Batista da Rua João Balby, 406, Vingren dedicava-se ao estudo da língua. Já Berg era a coluna financeira, tendo conseguido emprego como fundidor. Ainda assim, não era pequeno o movimento no local. Logo que tomavam conhecimento da tal história do revestimento do Espírito, os irmãos começavam a freqüentar o pequeno espaço em busca de mais informações. Na madrugada de 18 de junho de 1911, Celina de Albuquerque, que já havia recebido a cura de um câncer no rosto, recebeu a promessa. Uma benção, mas que culminou em divisão. Parte da congregação creu, mas outra parte rejeitou aquelas manifestações que incluíam músicas cantadas em idiomas ininteligíveis. Bastaram duas assembleias para que 17 membros e os dois suecos fossem excluídos.

Data: 21/2/2011

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