sábado, 12 de março de 2011

pentecostalismo parte 1

Por: Marcos Couto
O século do Espírito Santo

Fatos, pessoas, histórias, detalhes que marcaram a trajetória da Assembleia de Deus, que comemora 100 anos no Brasil


Entre os evangélicos brasileiros costuma-se comentar que, nos mais distantes rincões do país, nas menores e mais inacessíveis cidadezinhas do território nacional, pode não haver nem mesmo uma agência do Banco do Brasil, mas certamente não faltará um templo da Assembleia de Deus.

Trata-se, claro, de uma brincadeira, mas reflete muito bem a realidade. Pergunte nas ruas: “a que igreja você pertence?” A resposta de, pelo menos, um em cada três crentes será: “Assembleia de Deus”. Nessa gigante pentecostal, de fato, os números são grandiosos. Segundo estimativas da própria denominação, são quase 20 milhões de fiéis, filiados aos 6 mil diferentes ministérios e congregando em 100 mil templos.

Difícil é entender como tudo isso começou há quase 100 anos com apenas dois missionários suecos que nem português sabiam falar e ignoravam a existência do Pará, campo para o qual foram enviados a anunciar o Evangelho por meio do batismo com o Espírito Santo. E como em apenas 20 anos e sem qualquer estratégia pré-definida ou recursos, puderam chegar a todas as regiões do país. “É obra do Senhor”, dizem os assembleianos e historiadores oficiais da igreja. Certamente, só é possível compreender a totalidade dessa saga pela fé nos sobrenaturais desígnios divinos. Mas até nisso esse século pentecostal tem uma história que ainda pode ser melhor contada.

O moderno movimento pentecostal surgiu no começo do século XX nos Estados Unidos, quando um grupo de crentes redescobriu na Bíblia o batismo com o Espírito Santo com a evidência inicial da glossolalia – o falar em línguas “estranhas”. Assim como os discípulos reunidos no cenáculo de Jerusalém, durante a Festa do Pentecostes, conforme registrado em Atos 2, os seguidores de Cristo nos idos do século passado também passavam a falar em línguas estrangeiras ou celestiais, recebiam poder para testemunhar, realizavam impressionantes curas e ingressavam nos domínios dos dons espirituais. Em pouco tempo, esse fenômeno transformou-se em um avivamento que sacudiu aquela nação, graças à repercussão das reuniões realizadas na Rua Azuza, em Los Angeles, a partir de 1906.


Uma das cidades mais afetadas por esse avivamento foi Chicago. Ali, em 1909, uma convenção de igrejas batistas aceitou a mensagem do pentecostalismo. Foi nesse evento que dois jovens imigrantes suecos se conheceram e descobriram que tinham muito mais afinidades do que apenas a pátria-mãe. Gunnar Vingren era um recém-formado em Teologia e exercia o pastorado na vizinha South Bend. Daniel Berg, era um operário local. Ambos cultivavam um mesmo chamado, uma mesma paixão e uma única visão: alcançar o mundo com o Evangelho de Jesus. Pouco tempo depois, estreitando ainda mais os vínculos, Berg visitou Vingren. Numa reunião de oração, receberam uma profecia: estavam sendo chamados para pregar a Palavra de Deus em um lugar chamado Pará.

“Deus falou muito conosco. Além de mencionar o local para onde deveríamos ir, disse que a população era muito simples, que deveríamos lhes ensinar os rudimentos da fé. Ainda pudemos ouvir, pela primeira vez, a língua que falava aquele povo: o português”, conta Vingren em seu diário. É bem verdade que o Brasil não era desconhecido tanto nos Estados Unidos quanto na Europa naqueles tempos. Inclusive, Dom Pedro II havia estado na Suécia na década de 1880 e os jornais locais frequentemente publicavam anúncios para atrair interessados a novas possibilidades nos trópicos.

A partir daí, muitos imigrantes suecos desembarcaram no Sul e no Norte do Brasil nos anos seguintes, mesmo no Pará. Vingren e Berg, no entanto, garantiam nada saber sobre o local. Para localizá-lo, precisaram pesquisar. “No dia seguinte, fomos a uma biblioteca para descobrir se em algum lugar do planeta havia lugar com esse nome. O encontramos no Norte do Brasil. Mas era tão longe, que precisamos orar durante alguns dias, pedindo confirmação ao Senhor”, escreve Berg em suas memórias. Sem apoio de qualquer missão e com apenas uma pequena oferta da igreja local, os dois missionários foram para Nova York em 1910. De lá, partiram para o Brasil, chegando em Belém, no Pará, dia 19 de novembro. Tudo pela fé.

Data: 19/2/2011

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