segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Morte de Jobs abre discussão sobre o novo protagonista da informática

                                                                                                  
Nem as mais acuradas projeções são capazes de determinar o que vai ocorrer daqui para frente com a Apple e seus milhares de fãs. Órfãos de um dos homens mais inovadores da história, eles se dividem quando o assunto é o futuro da empresa. Afinal, Steve Jobs tinha o raro poder de criar necessidades tecnológicas antes que as pessoas as descobrissem — e talvez essa habilidade não exista em nenhum outro executivo atualmente no comando da companhia. Ao longo dos anos, Jobs procurou implantar sua personalidade em todos os processos da Apple, mas é somente agora, depois de sua morte, que essa marca vai passar por uma prova de fogo. Enquanto isso, especialistas apontam quem deve suceder Jobs no protagonismo tecnológico mundial.
Larry Page, um dos fundadores do Google, e Mark Zuckerberg, responsável pela revolução chamada Facebook, são alguns dos visionários que podem atrair mais holofotes a partir de agora. Há quem aposte, inclusive, no homem que criou o precursor dos tablets, hoje reconhecidos como o futuro da computação portátil. “O Jeff Bezos (fundador da Amazon, fabricante do Kindle) é o maior candidato a preencher essa ‘vaga’”, aposta Pedro Burgos, editor-chefe do site Gizmodo no Brasil. “Assim como Jobs, ele também acredita que seus produtos podem fazer diferença na vida das pessoas”, diz.
Outros afirmam, porém, que o fundador da Apple nunca vai ser substituído no quesito carisma. “Ele foi único. Há outros gênios, mas nenhum deles têm a empatia de Steve Jobs”, afirma o applemaníaco Breno Masi, famoso por ter desbloqueado o iPhone 3GS e criador da primeira empresa brasileira de aplicativos para o smartphone da companhia. O empresário teme que os produtos da multinacional percam refinamento com o passar do tempo. Embora a empresa, provavelmente, tenha um plano de atuação para os próximos anos, Jobs e seu preciosismo não estarão lá para cuidar dos detalhes. “Era ele quem determinava, com segurança, se um aparelho deveria ser lançado apenas em preto e branco. Ele também definia coisas como o número máximo de parafusos do iMac”, lembra Masi.
Liderança
Os temores sobre o futuro da Apple têm uma explicação histórica. Quando Jobs foi demitido da empresa, em 1985, o negócio degringolou. “A Apple se perdeu. Ela, que sempre foi uma companhia rebelde, de lançamentos únicos, caiu para o lado das commodities tecnológicas e quis competir com a IBM, com a HP”, lembra Luciano Kubrusly, que foi diretor da Apple no Brasil por uma década. Mas Jobs voltou e resgatou sua criação da falência, 11 anos depois. De lá para cá, o executivo fez um longo trabalho de doutrinação com sua equipe, indo da concepção dos projetos aos mínimos detalhes. Textos e biografias afirmam que ele pensava e discutia com seus funcionários, por exemplo, o formato das caixas de papelão que guardariam as novidades tecnológicas.
Tamanho cuidado contagiou executivos e engenheiros que hoje têm a árdua missão de continuar o legado de Jobs. “Steve não será substituído e, claro, sua visão é algo que a Apple e toda a indústria de tecnologia da informação vão perder. Mas ele criou um time forte, que vai continuar essa missão”, aposta a vice-presidente de pesquisa do Gartner, Carolina Milanesi. “A gente sabe da qualidade do Jobs e ele disseminou sua cultura na corporação”, concorda o analista Bruno Freitas, da consultoria IDC. “É isso que faz de um executivo um grande líder: a sua capacidade de formar pessoas que trabalhem em prol de um objetivo”, completa.
Alguns fãs e especialistas acreditam, contudo, que a morte de Jobs acabará com o grande trunfo da Apple: a inovação constante. Nos últimos 10 anos, a companhia lançou um sucesso atrás do outro, sempre reinventando produtos e os revestindo com uma elegância sem igual. MP3 players, por exemplo, não eram uma novidade quando Steve Jobs apresentou o iPod, em 2001. Mas somente o tocador da empresa da maçã fez com que todo mundo quisesse carregar um desses consigo. “Agora, o destino da Apple é uma folha em branco. De cara, ela vai ter um aumento gigantesco no faturamento, mas acho que ela perdeu a genialidade”, opina Marcos Hiller, especialista em gestão de marcas e mídia social.
O pessimismo de Hiller está ancorado no lançamento do iPhone 4S, na última terça-feira, um dia antes da morte de Jobs. Embora tenha processador e câmera mais potentes e um assistente de voz, muitos applemaníacos esperavam mais da novidade tecnológica. “Foi um evento frio e sem sal, que acendeu a luz vermelha. Até então, sempre que o Steve Jobs subia ao palco, a gente sabia que viria algo revolucionário”, diz. Outros fãs argumentam que a companhia adota a política de pequenos upgrades em seus aparelhos. “As pessoas esquecem como são os lançamentos da Apple. No ano que vem, vamos ter um iPhone com design totalmente remodelado”, prevê Breno Masi.
Fama
O paulistano Breno Masi ganhou fama, em 2009, por ter sido a primeira pessoa a desbloquear a terceira versão do iPhone. Sua façanha atraiu engenheiros da Apple, que o procuraram para saber como ele tinha conseguido liberar o equipamento. Depois disso, Masi virou o queridinho de muitas celebridades, que o contratavam para desbloquear iPhones comprados no exterior.
Vinda difícil
A Apple foi uma das últimas multinacionais da área de tecnologia a abrir um escritório no Brasil, em 1995. Ao chegar aqui, a empresa precisou enfrentar dois processos judiciais, um para registrar a marca Apple, que havia sido utilizada por uma empresa de computação, e outro para evitar que a Unitron produzisse clones do computador Apple II.
No início
A logomarca original da Apple, em 1976, era Isaac Newton sentado debaixo de uma macieira. Tinha um estilo rebuscado, logo abandonado em nome da limpeza visual que caracterizaria a empresa de Steve Jobs até a morte. Surgia a maçã, em sua simplicidade arrebatadora.
Explosão de vendas
42.000 %
Impressionante índice de crescimento dos pedidos de livros sobre Steve Jobs na livraria on-line Amazon, entre quarta-feira, quando foi anunciada a morte do cofundador da Apple, e ontem. A biografia autorizada Steve Jobs, escrita por Walter Isaacson, que está apenas em pré-venda, saltou da posição número 47.563 para a primeira.
Febre na web
Jonathan Mak, de apenas 19 anos, aluno de design da Universidade Politécnica de Hong Kong, jamais imaginaria o furor que sua homenagem a Steve Jobs causaria na internet. O jovem criou uma imagem incorporando a silhueta de Jobs à mordida da maçã do logo da empresa. A criação foi reproduzida milhões de vezes nas redes sociais e está sendo usada em produtos de merchandising, segundo a agência Reuters. O desenho foi feito logo depois que o executivo anunciou, em 24 de agosto, que estava deixando o comando da empresa, mas só se tornou um hit agora.

Fonte:  DIARIO DE PERNAMBUCO

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