sábado, 30 de abril de 2011

Uma Vida em Metáforas

(*) Carlos Bianchini
Se alguém tem dúvida a respeito de que Jesus foi completamente humano, que ouça a sua palavra em aramaico, sua vida se extinguindo na cruz: 
-- Eloí, Eloí, Lama Sabactâni? (Mateus 27.46). 
Exangue, impregnado do Antigo Testamento, a memória ainda guarda o salmo que aprendeu talvez na infância, que é o tempo de guardar poemas: 
-- Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste? (Salmo 22.1). 
Se alguém se sente abandonado, Jesus é seu antecessor.
Seu grito é um brado de identificação.
Essa identificação do divino com o humano é uma palavra de conforto, quando lemos o resto do evangelho de sua vida. O Abandonado foi abandonado até o fim (porque o cálice da morte lhe foi servido), mas foi resgatado no fim, quando não havia mais esperança humana alguma.
Feliz é aquele que se identifica com Jesus em seu sofrimento.
Feliz é aquele que se identifica com Jesus em sua ressurreição.
O sofrimento faz parte da nossa história. A esperança também.
Jesus, que perdera a conexão com o Pai, sentindo-se por Ele desamparado, agora restabelece o contato e ora.
Jesus é o mestre das histórias. Cada uma delas nos faz pensar em nossa própria vida.
Jesus é o mestre das parábolas. Cada uma delas conta a nossa própria história.
Jesus é o mestre das metáforas. Nem mesmo na agonia, do Getsêmani ao Gólgota, ele abandonou as metáforas. Numa delas, ora: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lucas 23.46)
Na verdade, não conseguimos falar das coisas mais importantes da vida sem o uso das metáforas. Não conseguimos falar sobre Deus, o Fundamento de nossa vida, sem o uso das metáforas.
Chamar Deus de "pai" é também uma metáfora, porque Ele não é um pai no sentido biológico da palavra.
Dizer que Deus tem "mãos" é uma metáfora, filha de nossa única maneira de falar dele, antropomorficamente.
Entregar o próprio espírito a Deus é afirmar-se pronto para morrer. Trata-se de uma metáfora da rendição, uma vez que Jesus, como também homem carnal, lutou para viver ("passa de mim este cálice" e "por que me abandonaste?"). Agora, ele se rende à vontade do Pai e se apresenta pronto para morrer. O maior sinal de obediência do mundo.
Jesus enfrentou o seu Getsêmani e dele saiu, vivo.
Jesus enfrentou o seu Gólgota e dele saiu, morto.
A história segue e ele sai vitorioso. Vivo, ressurreto do túmulo.
Também passamos pelo Getsêmani, mas, como o nosso lugar não é lá, somos dele libertados na sexta-feira.
Também passaremos pelo Gólgota, mas, como o nosso lugar não é lá, dele seremos retirados no domingo. No domingo da ressurreição.
Feliz Páscoa meu amado e minha amada.


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