quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

VIDA EM FAMÍLIA - CASAIS

VIDA EM FAMÍLIA - CASAIS
HIPOCRISIA NA FAMÍLIA CRISTÃ

Quão desumano pode ser o meio cristão com aquele que se afastou da fé? O melhor é orar
     É cada vez mais comum ouvir a expressão ‘família cristã’ em nosso meio, vejamos a relevância de tal assertiva.
     Para a sociologia, a família é o grupo responsável pela socialização primária, é o agente que primeiro atua em nossa formação. A família se vale de métodos educativos para tornar a criança capaz de enfrentar a sociedade com paridade psicológica.
     Para o Direito, a família tem grandes responsabilidades no que tange à formação do ser humano. Citamos aqui, o art. 55 da Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) que estabelece o dever dos pais de matricular o filho na escola, assim como o art. 246 do Código Penal que prevê sanções aos genitores que abandonam intelectualmente seus filhos. Por último, os arts. 226 a 230 da Constituição Federal que afirmam ser  a família a base da sociedade. Há inúmeros outros dispositivos que demonstram a importância da família no processo de crescimento psicossocial do indivíduo.
     A Bíblia, não por menos, até por ser a fonte inspiradora do conceito cultural e jurídico ocidental de família, impõe instruções à família em 1Cor 7:12-14,39, Mc 10:6-8, Ef 5:21-29;6:1-4, Col 3:20,21, 1Pd 3:1-6, 1Tm 5:4,8-10,14, 2Cor12:14. O próprio Cristo teve uma família, como nos é lembrado em Mc 6:1-3 _ “Saiu de lá e foi na sua terra e os discípulos o seguiram (…)Não é ele o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, Joseph, Judas e Simão? E suas irmãs não estão aqui conosco?”Mais do que ter uma família, Cristo nos ensinou como tratá-la. Em Mc 2:51-52 “Jesus desceu com seus pais para Nazaré e era obediente a eles. Sua mãe guardava todas estas coisas no coração”  
     Porém, a expressão ‘família cristã’, diferentemente dos enfoques anteriores, não se aplica apenas à família de sangue. Sendo mais específico, temos um Único Pai nas palavras do próprio Cristo, o Pai nosso, confirmado por Miquéias em seu livro cap. 2:10 “Não temos talvez, todos nós um único pai? Não temos um único Deus, nosso criador? Por que, então, se tem perfídia com o próprio irmão, profanando a aliança dos nossos pais?. Logo, biblicamente somos todos uma única família, enquanto filhos de um mesmo Deus (Jo1:12). Há ainda outra relação dessa expressão e o uso que dela fazemos apresentada em Gen. 49:1-2 “Jacó chamou os seus filhos e disse: ‘reuni-vos para que eu vos anuncie o que sucederá nos dias vindouros. Reuni-vos e escutai, filhos de Jacó, escutai Israel vosso Pai.” Jacó, portanto, dizia-se pai de um povo, tal qual Deus se define como nosso pai.
     Bem, é fato que estamos corretos ao empregar tal expressão, sendo possível dizer, inclusive, que nos tratar como família é algo acertadamente sagrado. Infelizmente, a realidade não corrobora com o ideal. O que seria algo grave, já que se nos intitulamos família cristã e não vivemos como tal, estaríamos fazendo uso de uma inverdade, para não precisar dizer uma mentira. Porém, quem é o pai da mentira senão o próprio Satanás? Então, se a expressão família cristã, no contexto empregado, não passa de uma farsa que contribui para criar uma máscara de um ideal que por estar mascarando uma mentira nunca será atingido, não seria melhor nunca ser empregada?
     Para que possamos entender melhor a gravidade da situação, numa questão tão delicada como essa, vamos aos fatos. Hoje vivemos um momento de “oba-oba”, os cristãos se dirigem uns aos outros como família, mas nem ao menos sabem o nome uns dos outros. Dizem-se amigos, mas nem sequer sabem como vai realmente a vida da maioria desses ditos amigos.
     O pior não anda acontecendo dentro da Igreja. “Falta de amor” é a expressão em destaque na comunicação entre irmãos, bem como na ausência de preocupação, na sua não fidelidade, na sua não confidência, no seu não respeito. É ainda mais sério quando o alvo é aquele que já foi um dia parte da família. Quão desumano pode ser o meio cristão com aqueles que se afastaram da fé! Ao invés de orarmos, amarmos, ajudarmos, suportarmos aqueles que pelos caminhos das sombras se esgueiraram (aliás, esses pelo menos estão frios, precisam ser esquentados, não estão prestes a serem vomitados pela boca de Deus).
     Parece que temos uma necessidade sobrenatural de transformarmos aquele antigo “brother” em “big brother”. Por isso, assim como na síndrome do BBB, que nos impulsiona a falar da vida de desconhecidos que aparecem na televisão, somente por falar e fofocar, falamos da vida desses nossos antigos “brothers” que agora são nada mais do que “Deus me livre ficar como fulano”. Nada mais comum do que em rodas de amigos cristãos termos uma carnificina. Se uma pessoa está mal, melhor assunto não há.
     A verdade é que estas pessoas dificilmente terão a chance de se redimir, é um peso triplamente pesado para que elas tenham essa chance. Porque primeiramente terão que adquirir a força de se redimir e confessar a Deus tendo, no lombo, o peso daqueles que só sabem apontar o dedo e virar as costas. Em segundo lugar, os que não apontam o dedo, em sua grande maioria, não fazem esforço nenhum para ajudar ou suportar (dar suporte) tal pessoa, afinal, “ela está afastada” ou “ela caiu”. Por último, a pessoa teria que adquirir a força para agüentar os olhares cortantes quando conseguisse superar a distância e tentasse voltar para o corpo. Força porque em rodas de fofoca tornou-se quase que o filho do demônio, senão o próprio, (uma vez que abandonara a Deus) que milagrosamente volta à vida na “família Cristã”. É, pois, motivo de desconfiança e desconforto para as grandes línguas e os olhos desesperançosos.
     Não cabe a mim julgar, mas que isso são fatos, acho que poucos hão de discordar. Também não acredito que isso seja uma regra geral (que caiba para todos), mas tenho uma segura e triste impressão de que seja a regra, não a exceção. Por mais quanto tempo iremos nos tratar cegamente, iremos brincar com a vida de pessoas que muitas vezes confiam em nós? De mais quantas pessoas mataremos a chance de se redimir para alimentar a conversa em uma rodinha de amigos que visa alimentar o ego ao dizer “graças a Deus eu não estou assim”???? Chegou a hora de mudar, chegou a hora de sermos família para com a família “de fato”! Chegou, sobretudo, a hora de pararmos de olhar para o lado e fazermos a nossa parte para que esse ideal (família cristã) seja verdade. Vocês acham que eu quero dizer  “família cristã, NÃO!!”? Muito ao contrário, FAMÍLIA CRISTÃ SIM. SIM no ideal, e muitos mais sim’s na prática, em nossas vidas, em amor, em confiança, em lealdade, em esperança, em Deus, nosso Pai e guia.
     Nunca percam a esperança nem mesmo naqueles que um dia se afastaram da esperança, ainda que seja apenas uma esperança em oração. Contudo, tenham certeza disso, “que aquele que em vós começou a boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Jesus Cristo” (Fl1:6), em vós e neles.
     Façamos um trato. Cada vez que começarem uma conversa que envolva pessoas que se afastaram, deixem que o papo continue apenas se quem começou o papo esteja disposto a não só fofocar da vida alheia, mas que pretenda igualmente edificar a Igreja. Que seja uma conversa em que todos os participantes comecem a orar e, quem sabe, fazer outras coisas para suportar (dar suporte) quem está mal. Caso contrário, interrompa a conversa e alerte a todos da gravidade do papo inútil que terão.
     Esse é um dos meus questionamentos quando se fala acerca de família cristã. Ainda sim, existem coisas que me incomodam e machucam mais profundamente que essas. Porém, desejo que cada um faça a sua parte e que a família seja uma realidade aconchegante, acolhedora e que consiga aquecer o coração mais frio na sua presença e não apenas um ideal imaginário na vida morna de cada dia.

Data: 9/2/2011 09:32:14
Fonte: outrasfronteiras.com.br

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